Na segunda parte de "Ser & Tempo", no capítulo 53, Heidegger diz:
" Como possibilidade, a morte não propicia ao ser-aí nada para ser realizado e nada em que, em si mesmo, possa ser real. É a possibilidade de toda relação com..., de todo existir. Na antecipação, a possibilidade 'será sempre maior', ou seja, se desentranha como aquela que desconhece toda medida, todo mais ou menos, significando a possibilidade da impossibilidade, sem medida, da existência." (Ser & Tempo, cap.53).
Algumas poucas pessoas conseguiram captar tão bem esta possibilidade da impossibilidade. Esta certeza-incerta que a tudo permeia. Estes dias, assistindo Nat. Geo, vi que alguns cientistas estão enlouquecidos procurando explicar com que velocidade caminha nosso universo para seu fim. Falam em uma força escura que faz as todos os objetos do mundo se afastarem um dos outros em direção ao isolamento. Mas os poetas já perceberam tudo isto neste micro cosmos de segundos e minutos de nossas vidas. Não precisam seguir numa contagem de bilhões de anos, mas codificam toda esta maravilha que é estar morrendo em uma dizer radical. Um desses poetas chama-se Dylan Thomas ( 1914-1953):
Do not go gentle into that good night,
old age should burn and rave at close of day;
rage,rage against the dying of the light.
Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
do not go gentle into that good night.
good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.
Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.
Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.
And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless, me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night,
rage, rage against the dying of the light.
(Do not go gentle into that good night - Dylan Thomas)
* Tradução de Fernando Guimarães:
Não entres docilmente nessa noite serena,
porque a velhice deveria arder e delirar no termo do dia;
odeia, odeia a luz que começa a morrer.
No fim, ainda que os lábios aceitem as trevas,
porque se esgotou o raio nas suas palavras, eles
não entram docilmente nessa noite serena.
Homens bons que clamaram, ao passar a última onda, como podia
o brilho das suas frágeis ações ter dançado na báia verde,
odiai, odiai a luz que começa a morrer.
E os loucos que colheram e cantaram o voo do sol
e aprenderam, muito tarde, como o feriram no seu caminho,
não entram docilmente nessa noite serena.
Junto da morte, homens graves que verdes com um olhar que cega
quanto os olhos cegos fulgiram como meteoros e seriam alegres,
odiai, odiai a luz que começa a morrer.
E de longe, meu pai, peço-te que nessa altura sombria
venhas beijar ou amaldiçoar-me com as tuas cruéis lágrimas.
Não entre docilmente nessa noite serena.
Odeia, odeia a luz que começa a morrer.
Seus primeiros trabalhos foram publicados entre 1934 e 1936, e foram objeto de muitas críticas. Este poeta estava em uma época onde poetas como T.S.Eliot, Edith Sitwell e W.H.Auden dominavam a poesia inglesa. Somente em 1946 com "Deaths and entrance" que ele veio a se firmar como grande poeta inglês. Morreu prematuramente aos 39 anos. Em sua poesia misturam-se metáforas e símbolos. Dylan Thomas nos econduz para um passado certo passado quando ainda estávamos mais próximos da natureza, ainda mais calmos, e podíamos escutar o ronronar da vida, o triturar silencioso, nem sempre festivo, mas constante e sereno da vida...